Metaverso: passado, realidade ou tendência?
Muito se fala que a tecnologia através de inteligência artificial, automação, redes sociais e metaverso irá fazer com que sejamos avatares de um mundo totalmente paralelo. Mas será que isso tudo é verdade? Já está acontecendo?
Bom, para iniciar, vamos descrever como chegamos até aqui e citar alguns conceitos e suas respectivas temporalidades relacionados a Realidade Virtual e Metaverso.
Em 1968, na Universidade de Harvard, iniciaram-se os primeiros experimentos utilizando Realidade Virtual, e logo depois em meados de 1980, Jaron Lanier cunhou o conceito de Realidade Virtual com [...] “o propósito de diferenciar as simulações tradicionais feitas por computadores de simulações que envolviam múltiplos usuários em um ambiente compartilhado (ARAUJO, 1996)”.
Essas estruturas imersivas rapidamente ganharam campo, e em 1985, a NASA iniciou treinamentos utilizando pilotos, e como desdobramento dessas pesquisas e aplicações, a Indústria de Jogos adentrou fortemente nesses mundos paralelos criados por computadores. Tivemos uma evolução muito forte nas décadas de 1990 a 2010 na área de games utilizando consoles e ambientes tridimensionais multiusuários.
Paralelamente a tudo isso, podemos destacar também a inserção de Realidade Aumentada em aplicações para visualização de objetos em 3D inseridos no mundo real. Claro que isso só foi possível inicialmente com o auxílio de smartphones com suporte a essa tecnologia. Logo após óculos com suporte a esta tecnologia foram disponibilizados para o mercado.
Muitos se confundem com esses conceitos. Sendo assim, resumiria descrevendo que na realidade virtual, as coisas acontecem dentro de um ambiente virtual e não em um ambiente físico, ou seja, em ambientes criados em estruturas tridimensionais. Nesta tecnologia utilizamos óculos de Realidade Virtual, além de roupas, luvas e outros dispositivos para ampliar a interação e a experiência. Já a Realidade Aumentada é o que identificamos como “o real aumentado pelo digital”, sendo adicionados objetos em 3D dentro do ambiente real. Realidade mista ou realidade híbrida é a tecnologia que une características da realidade virtual com a realidade aumentada.
Eu trago o conceito de Experiência Imersiva como sendo um guarda-chuva abarcando as tecnologias de Realidade Virtual, Aumentada e Mista, além de conteúdos como imagens e vídeos com o objetivo de criar plataformas e ambientes multissensoriais.
Voltando para a linha do tempo, após a indústria de games ganhar grande espaço com a utilização dessas tecnologias, em meados de 2012, iniciou-se um movimento no Brasil com a utilização dos óculos de Realidade Virtual Rift integrado com um equipamento para simulações de treinamentos em empresas de vários segmentos. Isso deve-se pois os simuladores necessitavam de processamento, armazenamento e memória para processar em tempo real os ambientes e as interações dos usuários. Logo após essa aceleração, a Samsung trouxe para o mercado o Gear VR com a opção de integrar os smartphones da própria marca para conseguir melhorar o processamento e a implementação de projetos em Realidade Virtual. Deixo como limitação desta pesquisa a identificação de vários outros óculos de Realidade Virtual que vieram para o mercado nos quais era possível colocar um smartphone dentro do próprio dispositivo para ter um processo de imersão, sendo que funcionavam como uma extensão dos óculos para fazer o efeito dos movimentos em 360 graus.
Várias empresas aplicaram treinamentos, principalmente nas áreas de segurança do trabalho, percepção de riscos, integrações de colaboradores e processos produtivos utilizando Realidade Virtual com os óculos da Samsung. Com um movimento de mercado, o Facebook (Meta) adquiriu a marca “Oculus” e muitos imaginavam que era para a área de entretenimento, mas analisando o movimento que ocorreu em 2021 com o Metaverso, talvez teria sido algo realmente planejado. Não saberemos, mas tudo isso que ocorreu desde o Gartner Group abordar como “aplicáveis” os conceitos de Realidade Virtual e Aumentada e a Meta movimentando as mídias com o conceito Metaverso, já estamos vivenciando essa transformação no dia a dia. A internet, as redes sociais, a comunicação, os óculos de Realidade Virtual, os smartphones, as criptomoedas, entre outros tópicos fizeram com que hoje o Metaverso fosse aplicável. Nós fizemos parte de várias ondas anteriores de adaptabilidade para estarmos aqui hoje facilitando o Metaverso.
Eu gosto de descrever o Metaverso como um conceito que busca replicar a realidade através de dispositivos digitais e em algumas situações desdobrados no virtual. O grande desafio de hoje é saber como nos inserimos e geramos negócios nesse cyberespaço coletivo, compartilhado, composto de realidade virtual, aumentada, I.A., blockchain, NFTs, internet, áudio, avatares e comunidades.
Mas esse conceito “Metaverse” foi criado pelo Mark Zuckerberg? Não, esse conceito foi cunhado pelo autor Neal Stephenson em seu romance de ficção científica de 1992 “Snow Crash”, que prevê um sucessor baseado em realidade virtual para a internet. No romance, as pessoas usam avatares digitais de si mesmas para explorar o mundo online, muitas vezes como forma de escapar de uma realidade distópica.
Muitos filmes e séries buscam representar esse conceito, dos quais posso destacar o filme Jogador Número 1 e a série Upload. Essa representação de um espaço coletivo onde podemos ser nós mesmos ou mesmo outros personagens é muito interessante, ver o processo de monetização e personalização realmente são os destaques nestes exemplos.
Várias empresas estão desenvolvendo seus “Metaversos”, e cada um com suas particularidades. O maior desafio será a interoperabilidade desses ambientes, ou seja, entrar e sair levando consigo suas características, posses, históricos, etc. Quando abordamos o conceito de “posse” de um arquivo digital, além de falarmos sobre blockchain, devemos falar de NFTs. Não irei abordar o blockchain nesta matéria, pois há um volume enorme de conceitos e regras, mas, em suma, podemos pensar em um quebra-cabeça. O arquivo digital é separado em peças e quando unido de forma correta, valida-se toda a estrutura digital. Já sobre o conceito de NFTs (token não fungível), vou me limitar para refletir que somente com a interoperabilidade dos “Metaversos” será possível garantir a base que sustentará esse conceito que busca garantir uma autoria ou a posse de um arquivo digital. Sendo assim, se estivermos em um Metaverso e entrarmos em outro, essas garantias e estruturas deverão ser suportadas automaticamente. Tentei escrever de forma resumida e não técnica para que a leitura fique confortável e sirva de inspiração para criarmos entusiastas de Metaverso.
Por fim, vamos para alguns exemplos práticos. Várias empresas estão investindo muito no Metaverso, e posso destacar a Nike, Tim, Itaú, Microsoft, Gucci, Stella Artois, Vans, etc. Cada uma com suas estratégias e seus objetivos. Trazendo para a nossa região, já temos exemplos de Lives, Palestras, Feiras, Centrais de Atendimento, Aulas, Entrevistas, Reuniões e mesmo sessões diversas. Trago aqui algumas imagens de aplicação que tiveram um grande resultado, tanto a nível de engajamento, quanto a nível de resultado. O primeiro exemplo é uma reunião em que apresentei os resultados do trimestre para a equipe. Neste evento, era possível interagir através de chat e acompanhar a apresentação.
O segundo exemplo é uma feira onde cada visitante podia interagir com os estandes e os avatares que eram representados por cada responsável pelas empresas. Foi mapeada a circulação dos visitantes e havia um painel de indicadores e visões para identificar as conversas, visitantes totais e únicos por estande.
O terceiro exemplo é uma agência para atendimento dividida em várias células, cada uma com um tipo de atendimento. Uma delas utilizava-se de uma árvore de diálogo com Inteligência Artificial para atendimento e, nas demais, quando o visitante chegava no avatar, um humano era acionado para conversar com o visitante.
A aplicabilidade do conceito Metaverso é infinita, sendo que a construção da ideia para buscar criar uma experiência única para os visitantes se torna essencial atualmente. Vamos pensar a tecnologia como meio e não como fim, ou melhor, uma caixa de ferramentas da qual possamos pegar algumas tecnologias e aplicar ao nosso negócio.
Por Dr. Pedro Bocchese – Diretor Núcleo Sistemas